segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Capítulo 13

Em seu luxuoso escritório no 39º andar, J. P. Alphonsus gastava o tapete persa andando de um lado para o outro incessantemente. Felizmente não era noite de pôquer, pois pela segunda vez no mesmo dia seu rosto demonstrava claramente as incertezas que lhe corroíam por dentro.

Onde estava o americano? Fazia horas que eles haviam saído de Cumbica! Por pior que fosse o trânsito, já deviam ter chegado há algum tempo. Acendeu mais um charuto, sentou-se e ligou a TV, zapeando os canais de notícias em busca de uma explicação para o atraso. Aparentemente, nada fora do normal acontecia em São Paulo naquela noite. Um acidente na Marginal Tietê parecia monopolizar as atenções do helicóptero da emissora, mas só. Não, um acidente seguido de assassinato, dizia o repórter. De qualquer forma, nada que justificasse o atraso! Será que eles haviam sido seguidos? Capturados? Seqüestrados? Só falta ele arranjar problemas com a embaixada norte-americana pelo sumiço do professor...

Subitamente, de seu celular começou a emanar uma música maviosa...um coral de virgens semi-nuas às margens de um lago sob a luz do luar, cantando ‘Where Is The Love’ do Black Eyed Peas. J. P. Alphonsus sempre escutara até as virgens chegarem no refrão, mas hoje ele estava ansioso demais. Viu no visor o número que chamava e atendeu.

- Onde diabos vocês estão?!?...quê?... sim...não, de jeito nenhum…certo, leva o cara para um lugar seguro e traz amanhã cedo aqui no escritório. E sem desculpas dessa vez!

Apertou o botão de desligar do celular com força. Sua mão ainda tremia levemente, mas seu coração já começava a desacelerar.

Quem inventou o celular não pensou que estava privando o mundo da melhor forma de desestressar existente, pensou enquanto trancava o escritório. Afinal, por mais força que se use para desligar um celular, mesmo os de flip, nunca se teria um prazer igual ao de se bater o telefone na cara de alguém.

Ainda ruminando sobre esse fragmento filosófico, J. P. Alphonsus subiu de elevador o andar que o separava de sua penthouse secreta. Depois de toda essa tensão, hoje não era dia de enfrentar a esposa e os filhos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Capítulo 12

Após alguns segundos recuperando o fôlego, Longdon abre os olhos e vê que todo o conteúdo da sua mala se espalhara pelos quatro cantos do vagão na queda. Com o auxílio do homenzinho, ele começa a recolher seus pertences, desculpando-se profusamente com uma senhora sobre a qual havia aterrissado seu frasco de shampoo para cabelos oleosos. Os demais passageiros permaneciam impávidos em seus lugares e, felizmente, ninguém mais havia sido atingido.

Nossos heróis levaram trinta minutos e cinco estações para reunir os restos mortais da bagagem – e Longdon ainda sentira falta da coleção “Esmiuçando o Código Da Vinci”, de 13 volumes, sem a qual não viajava para não ser pego desprevenido por alguma pergunta capciosa. Assim que fecharam a mala, o homenzinho fez um sinal indicando que era hora deles descerem e uma voz cansada anunciou a Estação Liberdade. Longdon, abraçado em sua mala, seguiu o homenzinho para a porta do vagão.

Quando a porta se abre, o professor se depara com uma multidão de olhos amendoados na plataforma! Tomado pelo pânico, vendo em cada um deles um cúmplice de seus perseguidores, Longdon agarra o braço de seu guia com uma mão e o cano de apoio do trem com a outra, sem nem se importar com a mala que se abre novamente ao cair no chão.

- Ficou louco, homem? É aqui que a gente desce! – pondera o homenzinho, tentando livrar o braço.

- Quem ficou louco foi você! Não viu que vamos mergulhar nas hostes do inimigo?

- Que mané hostes! A Liberdade é o bairro japonês de São Paulo! Nossos inimigos são uma gangue de coreanos e um negão de dois metros de altura! Vamos descer antes que feche a porta!

- Well, não acho que essa pequena diferença geográfica seja o suficiente para arriscar minha preciosa vida. Afinal, o símbolo máximo de um país é a sua bandeira e as bandeiras de Japão e Coréia são parecidas as hell!

Enquanto os dois discutiam, as portas voltaram a se fechar e o trem acelerou. Aliviado, Longdon sentou no banco, observando pela janela as pessoas que iam ficando para trás. Com a testa apoiada no vidro da porta, o homenzinho murmurava alguma coisa relativa a pedras e cruzes quando um estrondo atraiu a atenção de todos os passageiros!

Na plataforma de embarque, dois coreanos corriam para emparelhar com o trem e um deles tentava quebrar o vidro da porta com a coronha do revólver. Vendo que o trem se aproximava do túnel, os coreanos desistem da perseguição e correm em direção à saída.

Longdon não abriu a boca, mas em seu rosto o homenzinho pode ler claramente um maroto ‘eu não disse?’.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Incentivo para o lado certo

Li há pouco uma manchete no Globo.com dizendo que as escolas com melhor participação no ENEM tiveram aumentos de 10%. Nem li a matéria, mas ela me deu uma idéia: e se o MEC vinculasse os aumentos em mensalidades às notas de avaliação dos cursos? Ou seja, cada escola precisaria garantir que seus alunos tirem uma nota mínima no ENEM para poder reajustar suas mensalidades no ano seguinte. Quanto maior a nota, maior o reajuste. Notas baixas acarretam em uma redução das mensalidades e, abaixo de um certo nível, fazem a escola perder a licença.

Acredito piamente no conceito de amarração de objetivos, de direcionar as ações através de incentivos. Na maioria das empresas, por exemplo, os funcionários tem suas metas dizendo quais são suas prioridades e qual é o nível de qualidade esperado. Se melhorar a qualidade do ensino é realmente uma prioridade, por que não fazer com que as escolas saibam disso, recompensando exatamente as que conseguem atingir o objetivo?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pensamentos profundos (ou Para não falar do Belluzzo)

Hoje vi uma pichação em um muro da Av. Paulista dizendo que "A Revolução virá de Bicicleta". Se for assim, ela vai ser muito fácil de ser debelada. Basta os contra-revolucionários irem de ônibus!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Porco, o Urubu, o Galo, a Raposa e as Uvas

O Galo foi o primeiro: chegou lá e plantou a parreira (não confundir com o Parreira). Depois, o Porco espantou o Galo de lá e sentou para esperar a parreira crescer. E ainda bem que esperou sentado, pois esse tipo de uva demora 38 rodadas para amadurecer.

Rodada vai, rodada vem e o Porco continuava lá, firme e forte. Os outros animais até rondavam a parreira - que já estava vistosa e com um cacho recém-nascido - mas ninguém ousava se aproximar do Porco mal-humorado. O Galo até que ficava por perto, mas nunca perto o bastante para irritar o suíno.

Só que, como ver parreira crescer é um tédio só, o Porco pegou no sono. E bem na hora que o cacho começava a ficar apetitoso. O Galo voltou a se aproximar, assim como o Urubu e até a Raposa, que tinha desdenhado dessa uva na hora do plantio, enfeitiçado que estava pela variedade continental.

Ainda faltam 4 rodadas para as uvas estarem maduras, mas o Porco ainda não acordou - há inclusive reclamações de que ele tenha sido sedado por um vigarista. O Urubu deu uma tunda no Galo dentro do seu terreiro e ameaça levantar vôo em direção ao cacho, mas ainda não está livre de perigo - mesmo porque tem que se preocupar também com os botes da Raposa.

Sentado em uma nuvenzinha ao lado da parreira, o Santo assiste tudo com um olhar divertido.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Diário da Lui - 06/11

Eu já descobri isso faz um tempo, mas só agora lembrei de contar: meu quarto tem uma janela mágica! É verdade, toda vez que o papai ou a mamãe abrem, ela mostra um mundo diferente lá fora. Quer dizer, é tudo muito parecido, mas se você prestar atenção, vai ver que é diferente.

Por exemplo, às vezes o céu é cinza, às vezes é azul e, quando eu saio do banho, quase sempre ele é preto. E tem mais: às vezes as árvores estão de pé, às vezes deitadas...às vezes tem um barulhão de carro, às vezes dá até para ouvir os passarinhos...às vezes vem um ventinho gostoso no meu rosto, às vezes tá chovendo...

O problema é que lá em casa só a minha janela é mágica. A porta da frente não é. Toda vez que a gente sai por ela, cai sempre no mesmo mundo, desce de elevador e entra no carro. E o carro é legal, tem a minha cadeirinha e meus brinquedos, mas é sempre o mesmo.

Vou ver se convenço a mamãe a sair pela janela amanhã.